Abaixo o Cubismo

Por Lucas Mendes


A frase acima poderia ser uma crítica ao estilo criado por Pablo Picasso no início do século XX, no entanto ela possivelmente foi proferida por algum militar brasileiro durante a apreensão de livros sobre cubismo por fazer hipotética propaganda à Cuba comunista durante os anos de chumbo (1964-1985). Seria cômico não fosse tragicômico e posso apostar minha caneta que nenhum destes indivíduos padronizados em verde oliva sequer leu algum desses livros para saber do que se tratava.
Não é de se espantar que governos autoritários protagonizem esse tipo de pataquada visto que tradicionalmente costumam queimar livros e perseguir tudo aquilo que está além de sua compreensão. Foi assim com Hitler em 1933, com a ditadura militar brasileira a partir de 1964 e Pinochet em 1973 tendo este último promovido um verdadeiro genocídio cultural admitindo em 1985 a queima de mais de 15 mil livros.
O autoritarismo ataca aquilo que não se enquadra dentro da sua concepção limitada do mundo e principalmente aqueles que tem a mente livre para questionar e reimaginar a sociedade em que vivem. Não à toa o "filósofo" escolhido para legitimar a onda autoritária que assombra a nossa jovem democracia é alguém que consegue negar os conhecimentos e leis mais elementares da natureza como o formato da superfície terrestre, a lei da gravidade e o aquecimento global, por mais absurdo que isso possa parecer. Nisso estão em consonância.
Não é demais lembrar que por vezes a mão cega do fascismo se volta contra seus apoiadores e não perdoa sequer aqueles que num primeiro momento lhe estendeu a mão para a sua ascensão (Carlos Lacerda que o diga).
Por tudo isso e muito mais o curso da história já mostrou que regimes autoritários têm nas artes e no conhecimento um inimigo eleito, pois estes não se enquadram dentro de um sistema de obediência intelectual. Prendem-se pensadores, mas não o pensamento e este resiste ao tempo até que encontre outro pensador que o concretize. Pensar é um ato de resistência.
Resistiremos.



Comentários

  1. Texto simples, direto, sintético. Perfeito pra iniciar uma discussão, já que levanta muitos temas e deixa solto. Faz uma relação simples entre o fascismo e as artes, mas deixa claro a profundidade do assunto. É simples, mas não raso. Uma escrita objetiva, ideal para leigos, mas que deixa espaço para amplas discussões. Um texto prodigioso que pode ser usado pra analisar passado e presente (por mais triste que seja o fato). Adorei cada linha! Perfeito! Parabéns! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

    ResponderExcluir
  2. Resistiremos! Parabéns pelo novo blog, Lucas!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Extra! Extra! Tentaram matar o Lacerda!

A verdade sobre o INPE

A minha é maior que a sua