Diplomacia em Vertigem

Por Lucas Mendes


Segundo o site Wikipédia a diplomacia
"Geralmente é empreendida por intermédio de diplomatas de carreira e envolve assuntos de guerra e paz, comércio exterior, promoção cultural, coordenação em organizações internacionais e outras organizações."
Por esta pequena definição podemos concluir que a diplomacia é mais que uma questão de governo e sim de Estado. Podemos concluir também que exige se de um diplomata muito mais do uma simples relação estreita com governos estrangeiros, mas também inúmeros conhecimentos em áreas específicas, grande poder de articulação política e obviamente uma formação na área.
José Maria da Silva 
Paranhos Júnior,
 o Barão do Rio Branco
O Brasil tem uma longa e respeitada tradição diplomática, que vem desde o século XIX, mas que se acentuou no início do século XX quando José Maria da Silva Paranhos Júnior o Barão do Rio Branco esteve à frente do Ministério das Relações exteriores (1902-1912).
Sua gestão foi marcada pela negociação para o estabelecimento de fronteiras territoriais com os países vizinhos e a construção de uma política relativamente amistosa com os demais países da América do Sul uma região marcada por inúmeros conflitos territoriais.
Sua atuação lhe rendeu o título de patrono da diplomacia brasileira, tendo o Instituto que leva seu nome ser reconhecido como referência internacional como academia diplomática.
Esse período marcou também o início de uma relação mais estreita do Brasil com os EUA que à época despontaram como potência econômica.
Destaque para a participação brasileira no pós-guerra tendo participação decisiva na criação da Liga das Nações, órgão internacional que antecedeu a ONU.
Com a universalização das relações econômicas o Brasil passou a construir uma relação de "Equidistância pragmática" principalmente nos anos que antecederam a 2 guerra mundial, visto que mantinha relações comerciais tanto com a Alemanha Nazista quanto com os EUA e é importante ressaltar que o Brasil só entrou no conflito do lado dos aliados após sofrer ataques de submarinos alemães à navios brasileiros e depois de garantidas inúmeras contrapartidas por parte dos EUA.
O pós-guerra é um importante episódio da história diplomática brasileira pela participação efetiva do corpo diplomático e sobretudo de Oswaldo Aranha que conseguiu articular o acordo que deu origem a criação do Estado de Israel, feito que lhe garantiu uma indicação ao prêmio Nobel da Paz de 1948.
Oswaldo Aranha na Primeira 
sessão da ONU
Oswaldo Aranha é lembrado também por ter presidido a primeira sessão especial da Nações Unidas, feito que inaugurou uma tradição que se mantém até hoje com o Brasil sendo sempre o primeiro a discursar na Assembleia Geral da ONU.
Outro momento importante para a política externa brasileira foi o período que se sucedeu ao golpe militar de 1964, golpe este articulado e apoiado pelos EUA no contexto da guerra fria e das constantes intervenções estadunidenses no continente.
Havia ali um alinhamento automático com os vizinhos do Norte, porém após assegurar o golpe de Estado e a instauração de um Estado autoritário anticomunista o Brasil deixou de ser interessante para a política externa estadunidense principalmente após a chegada do      democrata Jimmy Carter à Casa Branca e das denúncias de violações de direitos humanos por parte do regime brasileiro fazendo com que a política externa voltasse à ser pendular e pragmática.
Antônio Azeredo da Silveira 
(1º); Ernesto Geisel (3º)

Sob a gestão do então ministro das Relações exteriores do governo Geisel (1974-1979) O Brasil adota o "Pragmatismo responsável e ecumênico" reatando relações diplomáticas com a China e com países da Europa Oriental como Bulgária, Hungria e Romênia além de reconhecer a independência de Angola, Guiné Bissau e Moçambique, com destaque para Angola que obteve sua independência após uma longa guerra civil vencida pelos comunistas do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).
Tudo isso contrastando com as intensas violações de direitos humanos dentro das fronteiras brasileiras, mas mostrando claramente uma política externa sem viés ideológico e com um pragmatismo responsável visando a diplomacia e o interesse comum que apresenta resultados mais efetivos do que a subserviência à determinados países.

Ex-Presidente
Luis Inácio Lula da Silva 
na assinatura da UNASUL
A política externa do Brasil nos anos 1990 e 2000 foi de intensa participação em acordos multilaterais como o Mercosul (1991), BRICS (2001) e UNASUL (2008). Foi também o período de consolidação do Brasil como potência mundial e de país mediador de conflitos, liderando inclusive missões humanitárias da ONU.
E é com este histórico que o Brasil chega a 2019, com o desafio de manter e respeitar a sua tradição diplomática e de política externa voltada para a defesa da paz, cooperação entre os povos objetivando o progresso e a solução pacífica dos conflitos, como consta na Constituição Federal.
Tradição essa ameaçada pelo presidente Jair Bolsonaro que pretende indicar um de seus filhos para embaixador nos EUA, alegando que este tem estreita relação com o presidente Donald Trump (como se isso fosse requisito para o cargo) rebaixando o país ao nível de ditaduras corruptas como Chade, Uzbequistão e Arábia Saudita. Além é claro de passar por cima de todo um processo de formação de carreira diplomática que começa com o cargo terceiro secretário e passa por Segundo Secretário; Primeiro Secretário e Ministro de Primeira Classe (embaixador) pulando também o obrigatório Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas e o Curso de Altos Estudos.
Eduardo Bolsonaro sequer passou pelo já citado Instituto Rio Branco e suas viagens ao exterior, seja acompanhando o pai, seja para se encontrar com políticos do mesmo espectro político que o seu não necessariamente o credenciam para o cargo até porque é esperado de um diplomata posições equilibradas e sóbrias o que não é o caso de Eduardo que já mostrou ter posicionamentos beligerantes e polêmicos.
Esta é uma escolha em nível Uzbequistão que nem o nepotista Getúlio Vargas ousou fazer. Se concretizada, será desrespeitada inúmeras carreiras diplomáticas construídas através de décadas de preparação em nome da autocracia e do nepotismo imoral do presidente.
Por essas e por tantas outras que tanto diplomacia quanto política externa devem ser tratados como questão de Estado e não de governo, pois governos são provisórios o Estado não. Mas a depender deste governo subserviente seremos um estado assim mesmo com "e" minúsculo igual Porto Rico.

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